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Channel: Salada Mista por Elise Machado » comida
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PARE TUDO E VÁ COZINHAR

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Dia desses, li uma crônica que falava sobre como a nova geração de mulheres se orgulhava de sua independência, de focar nos estudos, de trabalhar, de se divertir… e de não saber cozinhar. O texto era interessante, mas a parte do cozinhar me deixou melancólica. Que vantagem tem, se gabar de não saber cozinhar? É tão importante assim, ser diferente da sua vó? Pra quê?

Todos deveriam cozinhar: homens e mulheres. Até crianças. Nunca entendi muito porque cozinhar precisava ser um grande mistério. Deveria ser condição sine qua non – todos comem. Do momento em que nascemos até o momento em que morremos, uma das poucas coisas que podemos ter certeza é que teremos fome. Não importam muito suas convicções alimentares ou em que lugar do mundo você se alimenta – todos precisaremos comer. E com regularidade.

Seres humanos tão inteligentes como nós, e ainda há os que dependem EXCLUSIVAMENTE de comidas prontas, restaurantes, marido/mulher e empregadas, se quiserem fazer uma refeição. Isso é embaraçoso. Não saber se virar nem para não morrer de inanição não é sinal de modernidade, nem para mulheres e nem para ninguém. Quando deixamos de manejar coisas tão básicas, não podemos achar que estamos evoluindo.

Não estou sugerindo que todos percam horas na casa da tia, fazendo cursinho intensivo de como fazer rabada (hum, delícia!). Ou que virem chefs ou que só se interessem por home food. Mas que aprendam o básico –  que saibam juntar “lé” com “cré”, em uma emergência. Para aqueles que não se apertam entre as panelas, ovos e tomates vão magicamente se tornar omeletes, restos na geladeira virarão arroz de forno, e o macarrão ganhará charme até com uma lata de atum.

Cozinhar não é e não deveria ser sinônimo de ser mulherzinha. Nem deveria ser privilégio de quem estuda gastronomia. Cozinhar é um ato de amor: não existe bem-querença maior do que alimentar alguém. Do que nutrir. Do que satisfazer. Não existe nada mais recompensador do que ver a pessoa comendo com gosto algo que a gente fez. Alimentar seu parceiro então, chega a ser erótico.

Cozinhar une pessoas, é um momento agregador e de família. Mesmo que sua família sejam seus amigos ou seus gatos. Minhas memórias felizes sempre estiveram atreladas a sabores: esperar o ano todo para comer o pavê de natal da minha mãe (e que passou de geração para geração, e hoje minha filha faz); os biscoitinhos de nata da minha avó (que ela fazia com uma paciência infinita, guardando natas na geladeira); ou as panquecas que minha mãe fazia e que eram nossa recompensa – podíamos pular o jantar e comer só panquecas empilhadas, em estilo americano.

Cozinhar pode ser muito divertido e estimular a concentração. Saber cozinhar te dá liberdade e autonomia. E quando você entende o processo de cozinhar, fica mais ciente do trabalho que alguém teve para te alimentar. Você fica mais consciente do que coloca para dentro também.

Por isso, pare tudo e vá para o fogão. Vá literalmente meter a mão na massa. Nem que para isso tenha que dar uma espiada no Google antes. E tudo bem se você não for lá muito jeitoso: concentre-se em aprender o básico e a fazer UM prato bem. Aquele que vai ser a sua especialidade. Aquele com o qual você vai agraciar de vez em quando quem realmente importa na sua vida (ainda que seja você mesmo).

Quem sabe se, entre temperos e gostos, você não descobre do que você realmente tem fome?

 


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